Deflação de alimentos pode comprometer o crescimento das varejistas do setor alimentar
arroz, feijão, milho e batata, enquanto proteínas e bebidas (especialmente café) seguem como os principais vetores inflacionários.
A equipe atualizou suas estimativas para Assaí (ASAI3) e Grupo Mateus (GMAT3), mantendo recomendação neutra para ambas, mas com preferência relativa por Grupo Mateus, devido à alavancagem mais elevada do Assaí. O preço-alvo de Assaí para dezembro de 2026 elevado de R$ 10,50 para R$ 11,50. Enquanto o de Grupo Mateus ajustado de R$ 9 para R$ 9,50.
O JPMorgan destaca que o Assaí (ASAI3) tem um histórico sólido de crescimento. Uma das varejistas que mais se expandiram no Brasil nos últimos anos. No entanto, para lidar com seu alto nível de endividamento, a companhia reduziu os investimentos em capex e desacelerou o ritmo de expansão. Atualmente, o Assaí segue em trajetória positiva de desalavancagem, e o recente alívio nas taxas de juros favorece os resultados por ação (EPS).
Ainda assim, o banco mantém uma postura cautelosa diante do ambiente competitivo mais acirrado, que pode se intensificar com a deslistagem do Carrefour Brasil.
Já o Grupo Mateus (GMAT3), terceiro maior varejista de alimentos do país e líder na região Norte, tem ampliado sua presença no Nordeste — mercados com menor concorrência em relação ao Sudeste. Segundo o relatório, a empresa conta com uma rede de distribuição robusta e adota um modelo híbrido de atacado B2B e varejo multiformato, com foco em lojas de atacarejo, que representam 55% das vendas.
Índice de Preços no Atacado para produtos agrícolas (IPA)
O banco ressalta ainda que o Grupo Mateus possui um balanço sem alavancagem. Profundo conhecimento das regiões onde atua e vantagem competitiva como pioneiro em muitos mercados locais.
Por outro lado, a estrutura de capital de giro é mais pesada que a dos concorrentes, e o potencial de valorização das ações depende de melhorias relevantes no ciclo de caixa — já contempladas no modelo do JPMorgan, mas que podem levar tempo para se concretizar. A companhia também depende, em parte significativa, de incentivos fiscais para gerar lucro. A ação negocia a um múltiplo de cerca de 11 vezes o lucro estimado para 2026, patamar similar ao dos pares do setor.
O relatório ainda destaca que o Índice de Preços no Atacado para produtos agrícolas (IPA) considerado um bom indicador antecedente para a inflação de alimentos no domicílio, caiu 5% na comparação mensal de junho e desacelerou para 9% na base anual, após alta de 16% em maio.
Os preços do frango recuaram e a carne bovina passará a enfrentar uma base de comparação elevada no segundo semestre.
Atacarejo
O JPMorgan também observa que o setor de atacarejo tem tido dificuldade em crescer em mesmas lojas (SSS, na sigla em inglês). Além disso, a inflação percebida por esse formato tem superado o índice geral de alimentação no domicílio. Isso sugere pressões maiores sobre volume e aumento do comportamento de trade-down (migração para produtos ainda mais baratos).
O rastreador de preços do banco aponta nova deflação em julho, após queda de 0,4% no IPCA de alimentos no domicílio em junho. Com isso, o tíquete médio pode ser pressionado, especialmente a partir de setembro, quando os efeitos de base ficam mais desafiadores.
Uma análise de sensibilidade mostra que o Assaí é mais impactado por uma desaceleração nas vendas. Ou seja, para cada ponto percentual de queda no tíquete médio, o lucro por ação (EPS) recua 8% no caso do atacarejo, contra 3% para Grupo Mateus. A simulação considera margem bruta estável, despesas fixas e ausência de substituição ou migração entre categorias de produtos.