Termo Mankeeping recente define comportamento antigo de mulheres assumirem o papel de terapeutas dos homens com que se relacionam
Um termo criado recentemente define comportamento: “mankeeping”, uma junção “man” (homem) e “keeping” (manutenção).
Por gerações, as mulheres assumiram o papel de cuidadoras emocionais e do bem-estar dos homens com quem se relacionam — seja parceiro, irmão, amigo ou pai. Lembrá-los de consultas médicas, ouvir desabafos, controlar gatilhos de raiva. Bem como resolver conflitos por eles e incentivá-los a se abrirem emocionalmente são alguns exemplos desse trabalho.
A pesquisadora de pós-doutorado na Universidade Stanford, na Califórnia, EUA, foi quem criou a expressão que viralizou recentemente na internet. Para a especialista, isso vai além do carinho e da parceria saudável, podendo trazer uma espécie de sobrecarga silenciosa.
A psicóloga clínica e pesquisadora Ramani Durvasula diz que esse fenômeno é uma extensão do que a socióloga Arlie Hochschild já descrevia nos anos 1980 como “trabalho emocional”, originalmente vinculado ao ambiente de trabalho e depois aplicado às relações afetivas.
Termo é novo, mas o comportamento não
Embora o termo “mankeeping” seja recente e tenha ganhado popularidade nas redes sociais, o comportamento que ele nomeia é bastante antigo. Por várias gerações, as mulheres foram condicionadas, cultural e historicamente, a serem a figura que sabe amar, que entende o outro, que é compreensiva e que “aguenta mais”, do ponto de vista de Magalhães.
Além disso, existe também um aspecto relacional por trás desse comportamento. Muitas mulheres acreditam que, ao “salvar” emocionalmente o parceiro, serão valorizadas e amadas, e o relacionamento durará mais tempo. A isso, soma-se o mito do “homem em construção” — uma crença difundida culturalmente de que cabe à mulher “ensinar” ao parceiro como amar ou amadurecer emocionalmente, segundo Tomazelli.
Outro fator que pode estar associado ao “mankeeping” é a falta de educação emocional masculina.
Impacto na saúde da mulher pode ser profundo
O “mankeeping” pode trazer uma sobrecarga emocional para a mulher, com consequências profundas para o bem-estar mental, segundo as especialistas.
“Quando a mulher se responsabiliza pela dor e pelas questões emocionais do outro, ela se anula, se esgota, se silencia, começa a sentir que nunca é suficiente, que nunca é o bastante, que o relacionamento é sempre uma batalha e que, se ela parar, tudo desmorona”, analisa Magalhães.
Essas sensações podem gerar ansiedade, angústia, depressão, baixa autoestima, esgotamento emocional e sentimento de solidão e carência.
“Há, ainda, o risco de negligência consigo mesma: muitas mulheres deixam de investir em seus próprios projetos, amizades e autocuidado para atender às demandas emocionais do parceiro. Essa sobrecarga emocional crônica também pode afetar o sono, o apetite, a produtividade e o senso de valor pessoal”, completa Tomazelli.
Como romper com o mankeeping?
O desequilíbrio entre o “oferecer e entregar muito” da mulher e o “receber pouco” do homem pode trazer consequências negativas para o relacionamento, gerando, inclusive, um ciclo tóxico: a mulher pode se ressentir por não ter suas próprias necessidades atendidas, e o homem pode desenvolver uma postura passiva e dependente, de acordo com Tomazelli.
A boa notícia é que, se for da vontade da mulher, é possível romper com esse comportamento sem abandonar o parceiro ou deixar de oferecer apoio a ele. O segredo para isso, segundo as especialistas, é estabelecer limites saudáveis.
“Você pode escutar, acolher, porque é super importante, mas também precisa saber o momento de dizer ‘olha, eu te apoio, mas você precisa buscar ajuda, terapia, caminhos para se entender’. É sair do lugar de terapeuta e ocupar o lugar de parceira”, diz Magalhães.
Tomazelli também lista algumas dicas, mas reitera que a mulher não deve assumir essa responsabilidade sozinha. As estratégias incluem:
- Nomear o padrão: conversar abertamente sobre a sobrecarga emocional que a mulher sente e como isso afeta a relação;
- Estabelecer limites emocionais: por exemplo, recusar-se a assumir o papel de mediadora constante ou lembrar o parceiro de todas as suas responsabilidades afetivas;
- Incentivar terapia individual e de casal: para que ambos possam desenvolver repertório emocional e lidar com conflitos de maneira mais madura;
- Reequilibrar os papéis: dividir tarefas emocionais, como lidar com crises familiares, tomar a iniciativa em conversas difíceis ou refletir sobre os próprios sentimentos.