Ao bombardear instalações nucleares do Irã na madrugada (horário local) deste domingo (22), os Estados Unidos agiram diretamente em ajuda a um aliado: Israel
O governo Donald Trump alegou que o ataque que foi uma intervenção pontual e que não planeja uma mudança de regime no Irã – contrariando o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, que pediu um levante no país inimigo. Mas o próprio presidente americano sugeriu horas depois na rede Truth Social que apoia a queda do líder supremo iraniano, Ali Khamenei.
Independentemente dessa questão, a ação americana manda recados para os dois principais rivais geopolíticos dos Estados Unidos atualmente. Ou seja, China e Rússia, e, por consequência, para o mundo.
A Rússia “condenou veementemente” os bombardeios ao Irã e os chamou de “uma grave violação do direito internacional, da Carta da ONU. Bem como das resoluções do Conselho de Segurança da ONU”.
A China seguiu a mesma linha e se ofereceu para “trabalhar com a comunidade internacional para unir esforços e defender a justiça. Além disso, contribuir para o trabalho de restauração da paz e da estabilidade no Oriente Médio”.
Diferentes narrativas
Para Alan Pino, analista do think tank americano Atlantic Council, o recado principal de Trump é que, por mais que seu discurso seja de evitar iniciar ou acirrar conflitos, sua paciência tem limites. Justamente em um momento em que o presidente americano é cobrado. Por ainda não ter colhido resultados concretos nas negociações com a Rússia para acabar com a guerra na Ucrânia.
Outro analista do Atlantic Council, John E. Herbst, ex-embaixador dos EUA na Ucrânia, afirmou que Trump “agora está em uma posição muito mais forte” para negociar com o ditador russo, Vladimir Putin.
Entretanto, em entrevista à NPR, Nicole Grajewski, membro do Programa de Política Nuclear da Fundação Carnegie para a Paz Internacional, destacou que a China e a Rússia “nunca ofereceram ao Irã ajuda ou assistência mútua quando se trata de assuntos militares” (ou seja, nunca foram realmente aliados de Teerã nesse sentido), e que Trump precisará ficar atento para que Moscou e Pequim não utilizem o ataque às instalações nucleares iranianas para desviar atenção das agressões realizadas pelos dois rivais americanos – da Rússia contra a Ucrânia e da China contra Taiwan.
“Acho que a narrativa que sai desse ataque, especialmente no Sul Global. Realmente favorece o tipo de visão de mundo que Rússia e China buscaram criar sobre essa ordem multipolar antiocidental. E, portanto, eles têm se aproveitado disso para formar uma coalizão de Estados que se opõem aos Estados Unidos”, descreveu Grajewski.
“Eles também podem usar esse ataque para uma escalada horizontal e ver esse conflito como uma forma de desviar a atenção de outras questões, como a Ucrânia, por exemplo”, alertou.